Dirigindo no escuro
Eu dirigia por uma estrada vazia, em alta velocidade, era noite alta de uma terça-feira de janeiro e estava chovendo bastante. Levemente sonolento de tanto dirigir desde o Paraná no dia anterior, via as luzes passando vermelhas e brancas, desfocadas, ritmadas. O carro era um prolongamento dos meus braços. Quase como se eu o estivesse vestindo. Então senti que vestia mesmo meu próprio corpo, como se de algum lugar lá dentro eu coordenasse as ações dos braços, dos olhos, das pernas, que moviam, olhavam e pisavam algumas partes mecânicas: carro e corpo unidos, articulados. Uma armadura ou uniforme, eu lá dentro em algum lugar. Foi estranho perceber esta independência, eu interno ao corpo, consciente dos comandos, das engrenagens. Desejei subir, ver o que havia lá fora. Atravessei o teto do carro como se ele não estivesse ali. Via a estrada deslizando em grande velocidade. Elevei-me mais e mais, observando a noite estrelada. Enquanto isto, meu carro cruzava a pista e voava pelo barranco la...