Postagens

Mostrando postagens de setembro, 2013

A Ilha de ontem

Um tremor e... Os habitantes da Vila acordaram sobressaltados no meio da madrugada. De manhã, viram que no meio de sua linda baía, bem no meio tinha surgido uma curiosa ilha. O terremoto da madrugada a tinha feito surgir, pensaram. Pularam nos barcos e foram explorar o novo território. Era uma parte de terra estreita, marrom e lodosa, com uns 200 metros de extensão, 40 de largura e 20 de altura. Apesar do solo pegajoso, parecia bem firme, e alguns já queriam sua propriedade reivindicar. Os cientistas encontraram metano na superfície, diversos pequenos pontos de vazamento do gás, e isso os fez suspeitar que a ilha poderia ser um “vulcão de lodo” – uma grande quantidade de gás poderia ter sido liberada com o terremoto e formado uma bolha no fundo do mar, a ilha seria o cume da bolha. Se fosse isso, poderia explodir toda a Vila a qualquer momento. Ninguém mais queria a Ilha (vamos chamá-la assim). Afinal, nem era plana, e fedia bastante, perceberam enfim. Um grupo de mergulha

Outros recomeços

Andava sempre dois passos à frente de sua sombra, para não cair no escuro buraco por ela demarcado, ameaçador. O buraco o seguia, profundo, onde quer que fosse, tentando engoli-lo. Na metade do dia não podia sair às ruas, ou se saísse, precisava usar poderosos refletores que deslocavam a sombra a pino um pouco para os lados, algo inconveniente. Preferia caminhar sobre as águas, que dissolviam a sombra, mas nem sempre havia um lago ou piscina disponível, e o mar não levava a parte alguma. No fim do dia, depois de tanto fugir de si mesmo, chegava-se perto de algum muro e o sol poente trazia a sombra para o seu lado. Aí entrava no buraco como quem entra pela porta de casa, e todo dia ficava lá dentro escondido esperando o tempo voar, a noite passar, sonhando com alvoradas de bolinhos de chuva com café. Isso foi há anos atrás.

The End

Era uma bela carioca cheia de acessórios e itens reluzentes, em uma esquina movimentada de Ipanema. Bebericava um frozen de frutas tropicais em uma lanchonete chique qualquer. Ao seu redor, outras tantas meninas bem parecidas entre si, tanto que quase poderiam constituir uma nova raça, como os poodles ou yorkshires para os cães, cada qual com seu copo de milk-shake, suco ou smoothies , todas olhando para o mesmo ponto ali na rua. Bem no cruzamento, uma ambulância cheia de luzes e paramédicos com pás recolhiam os restos de alguém. Eram fotos, desenhos, cartas, fluidos, letras, chaves, tabuleiros, páginas e mais páginas, canetas, sonhos, ideias. Tudo espalhado, e já muito coberto das marcas de pneus e de sapatos. A pessoa, esvaziada, transparente, na outra esquina bebia um café forte. Talvez não fosse ainda tarde demais para ser socorrida.