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um Museu triste

--> Agora entendi. É preciso estar um pouco fora de mim para escrever. Quando me tenho e contenho tanto em labores tão múltiplos pouco me resta de espaço para respiração. Hoje foi um dia assim, de sair de mim. No Museu Nacional resolvi pela primeira vez ver alguma coisa, nas dezenas de visitas anteriores pouco havia a observar, apenas a olhar de relance, assim rápido, acompanhando cada filho enquanto crescia e corria de um corredor ao outro. Hoje o filho foi de mãos dadas com o pai de um amigo e o arrastou enquanto eu via. Vi as múmias e reparei pela primeira vez que eram todas mulheres, as três. Duas estavam muito enroladas, preservadas. A terceira estava em suas vestes primárias, e parecia uma menina coberta por alguma malha justinha. Acompanhei a perna perfeita, a panturrilha, cheguei aos pés, esses desenrolados mostrando pequenos dedos, alguns já descarnados ossinhos. Subindo pelo ventre, seios, revestidos de desenhos e diagramas rituais, depois uma cabeça descobe

A última viagem

Arraial do cabo, praia grande, 12 de abril de 2014 - Pai, vamos cavar um buraco até o centro da terra? - Não dá, Miguel, o centro da terra é muito longe. - O que tem lá? - Ninguém sabe, uns acham que é cheio de lava de vulcão, outros acham que tem dinossauros. - Eu vou cavar.. Algum tempo depois.. - Pai, tou cansado. Cava para mim? Cavei, cavei, cavei.. - Miguel, o buraco já está bem fundo, cabe até você lá dentro. - Ainda falta muito para o centro da terra? - Muito muito - O rio de janeiro é mais perto que o centro de terra? - É sim. - Então cava até o Rio para a mamãe e o Tito virem pracá.

meus remédios

Renata abriu a mochila, retirou um pacotinho plástico selado, de um lado cor prata, do outro transparente. Dentro dele, cerca de dez comprimidos. - O marrom é ômega 3, os branquinhos são polivitamínicos e aqueles verdes são para meu joelho, que é bem ruim. Para todas as articulações, fortalece todas. Sim, tomo todos os dias, já vêm assim embaladinhos e dentro de uma caixa maior. - Uma vez fiquei três dias sem tomar, de tanto tempo com a medicação, o corpo sente falta e reclama, tomo todos os dias há pelo menos dois anos. Nessa vez que viajei sem os remédios fomos para um lugar lindo, mas eu estava tão cansada (falta dos comprimidos) que fiquei em casa sozinha. Meu marido estava em Friburgo quando as aranhas começaram a aparecer. - Sim, daquelas peludas. Subiam na cama e subiam umas por cima das outras fazendo barulhos de caranguejos atravessando a rua. Eu esperneava e gritava, para cada aranha chutada subiam dez. - Aí elas desapareceram? - Como se fossem frágeis borboletas. Assim