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Mostrando postagens de setembro, 2008

Businessman

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Os olhos fundos de quem dorme mal e trabalha ou se preocupa demais, a pele desbotada num tom amarelado e insalubre, a boca caída nos cantos numa expressão gravada pelo hábito, um executivo marchava a passos acelerados pelo saguão do aeroporto. Terno preto, maleta de couro preto na mão direita, laptop preto na mão esquerda. Avançava abraçado ao computador, absorvendo megabytes de planilhas que estavam armazenadas lá dentro e lançando olhares irritados e intolerants ao redor. Chegou ao portão 18, o embarque foi transferido para o portão 5, no extremo oposto do aeroporto. Rumou a passos rápidos e indignados, sobretudo porque em toda aquela extensão não encontrara um só vassalo que o reconhecesse. No avião sentou-se na poltrona do corredor, manteve o laptop apertado contra o peito até que foi obrigado pela aeromoça a colocá-lo em um lugar mais seguro. Fechou os olhos e o depositou na poltrona ao lado, entre nós dois, e deixou a mão sobre ele. Absorvia agora as apresentações de powerpoint e

AutoConhecimento

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AutoExploração com gosto de tédio, sem nada a dizer.

Desertos

A areia, que já foi água, é o mar do lagarto, que já foi peixe. O mar é o deserto do náufrago, o chão é o infinito do inseto, o escritório é uma caixa, a porta é uma prisão. A rua é o mundo do cão. As horas são o espaço do tempo que nos cabe medir a noite é o cobertor do dia, quantos metros de noite cabem na vida? o corpo é o jeito do morto, a morte é um descarte, o túmulo é uma lixeira de gente. Todo lixo já foi desejado. Toda dúvida é divisão.

13D

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Um time de futebol está espalhado pelas poltronas ao redor, jogadores voando ruidosos em agasalhos cores azul e vermelho. Estamos no Aeroônibus 320 vermelho. Mexem em todas as coisas, como se qualquer botão precisasse ser pressionado, qualquer papel revirado, qualquer portinha aberta. Assaltaram há pouco o carrinho do serviço de bordo, dominaram o imaginário das aeromoças e comeram e beberam todas as porções extras que havia, enquanto uma delas derramava (abobalhada) refrigerante nos passageiros. Vôo afivelado ao 13D: a fileira 13, como demonstração do humor do projetista, é a das saídas de emergência laterais. A nave sacode, área de turbulência. O jogador que está à direita pergunta como se faz para abrir a fuselagem caso precise sair por ali, finjo que não sei. Há cinco desenhos bem visíveis demonstrando a operação, não sei como mas ele não consegue ler as instruções. As pessoas só conseguem compreender os desenhos para os quais têm suficiente vocabulário visual, quando não o tem pro