fantasmas
Vejo os fantasmas das pessoas vivas, porém mais novas, de quando eram de minhas relações, tal qual interferências das imagens de um televisor. São transparentes, etéreos, levemente colorizados, e fazem sempre os mesmos gestos, as mesmas cenas. Vejo as pessoas das imagens e não consigo acreditar que são as mesmas de minhas memórias, que o tempo tanto mudou. Os fantasmas, a seu lado, evidenciam suas misérias e as minhas. Parecem reclamar de decisões não tomadas, assombram arrependimentos e lembranças. Imagino as pessoas futuras, deitadas rígidas e com a pele amarelecida como cera, exangues. Assombram o tempo, os intervalos. Ontem estive à cabeceira de um morto em um cemitério triste, um hotel de mortos. Não o conheci em vida, nunca existiu para mim, nem vai gerar interferências. Meu écrã anda movimentado demais.