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Mostrando postagens de maio, 2011

Anoitece dentro da nuvem

A criança puxa o fiozinho que sai da orelha esquerda, ainda curto e colorido, listrado azul e branco. O puxão é mais vigoroso que prudente e a dor provoca-lhe lágrimas. Seus pais têm longos fios escuros, todos os adultos são assim, não é justo que os fios das crianças sejam tão curtinhos – pensa. O pai certa vez disse que os fios não devem ser puxados nem cortados, é muito perigoso fazê-lo. Perigoso por quê? Mas agora que foi puxado, lá dentro não pára de doer. Será que vou morrer? Corre a contar aos pais. - Enxugue essas lágrimas, filho, ninguém more disso. No máximo vira do avesso, por isso que dói, por desgrudar o outro lado. Daqui a pouco a dor passa. - O que são os fios, pai? - Ah, os fios são uns sonhos.

Booktrailer Contos Noturnos

booktrailer do livro do blog com uma das histórias que já não estão mais aqui.. http://www.youtube.com/watch?v=n3jraa0R45M

Um outro Vôo

À esquerda um homem careca de quase 40 anos, porte de lutador, reza um terço branco em voz baixa enquanto o avião não decola. Atrás, a grávida peruana diz que está enjoada e prestes a vomitar. Diz isso algumas vezes, o que me faz encolher, receoso. À frente, uma executiva folheia ruidosamente algumas páginas grampeadas. O avião começa a se mover, manobra de posicionamento na pista, as aeromoças dão instruções de segurança. Não há ninguém realmente por perto, ainda que os vizinhos invasivamente aproximem-se através de seus sons. Lá fora a Grande Cidade parece parada, como parece a Lua quando vista de relance na noite, mas que imperceptivelmente evolui a um novo ponto no céu a cada vez que olhamos. Assim também é a Cidade, os prédios maiores são mais lentos, pesados, virando suas janelas para seguir o Sol poente. As casas mudam de lugar, sobem umas nas outras e ultrapassam os prédios baixos, engarrafando-se em morros e preguiçosamente deslizando contra os viadutos serpenteantes. Em tudo