Um outro Vôo

À esquerda um homem careca de quase 40 anos, porte de lutador, reza um terço branco em voz baixa enquanto o avião não decola.
Atrás, a grávida peruana diz que está enjoada e prestes a vomitar. Diz isso algumas vezes, o que me faz encolher, receoso.
À frente, uma executiva folheia ruidosamente algumas páginas grampeadas.
O avião começa a se mover, manobra de posicionamento na pista, as aeromoças dão instruções de segurança.
Não há ninguém realmente por perto, ainda que os vizinhos invasivamente aproximem-se através de seus sons.
Lá fora a Grande Cidade parece parada, como parece a Lua quando vista de relance na noite, mas que imperceptivelmente evolui a um novo ponto no céu a cada vez que olhamos.
Assim também é a Cidade, os prédios maiores são mais lentos, pesados, virando suas janelas para seguir o Sol poente. As casas mudam de lugar, sobem umas nas outras e ultrapassam os prédios baixos, engarrafando-se em morros e preguiçosamente deslizando contra os viadutos serpenteantes.
Em tudo palpita uma vida própria do concreto, do aço, de janelas piscantes, de luzes dançantes e dos carros coloridos.
E tudo diminui até que de repente some na branca nuvem que se fecha ao nosso redor.

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