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Mostrando postagens de maio, 2012

Tice já era.

Tice era uma menina frágil, porem bonita e misteriosa ao seu jeito. Certo dia, enquanto desenhava grades, pressentiu que era observada. Olhando ao redor, cruzou com os olhos de um homem alto, magro e de cabelos e barbas longos e misturados, um aspecto maltrapilho e desonesto. O homem sorriu, mostrando cacos de dentes podres e enegracidos, e uma ponta de lingual rachada e indecente. Tice sentiu medo e apressou-se a guardar seus materiais, mas eram muitos lapis e o processo demorou tanto que o andarilho tinha se aproximado. -        Menina, tinha reparado em seu pescoço, ele é lindo. Tão branco, longo e sedoso. Quero colocar minhas mãos ao redor dele, posso? -        Sim, não posso impedi-lo de olhar para meu pescoço, nem de desejá-lo, assim não faz sentido negar, mas seja gentil, por favor..         O homem apertou seu pescoço até sentir que não havia mais resistência, e o corpo de Tice pendia leve e sem vida de seus dedos. -        Desculpe, mocinha, você era

sonho semiótico

Estou andando sobre as águas de uma ensolarada baía, águas salgadas verde esmeralda. Lá no fundo estão os restos de um naufrágio, o cavername do barco como as costelas de uma baleia escura. Vejo os peixes que devoraram os passageiros, os ossos da tripulação, os cacos de louça. Vejo a sombra das nuvens oscilando nas dunas do fundo e cobrindo os despojos com uma mortalha de desolação. Agora chove. Agora é noite. Ando sobre abismos de peixes fosforescentes e animais desconhecidos, sinto frio, agora venta e há enormes ondas de alto mar e uma ilha. Ando sobre a ilha que não parece acabar, é dia novamente e alguns anos se passaram desde ontem, e a ilha vira continente, eu viro conteúdo, e o que faço transpira significado.

D - os exibidos

Os faisões emplumados de amarelo e vermelho berrante circulavam ao redor da sala, fazendo-se presentes por toda parte, só perdendo em exuberância para os pavões, que espremiam-se exibindo os rabos em leque. Pousados nos lugares mais altos estavam abutres e urubus, sombrios e solenes, à espera de que tudo desandasse lá em baixo e realmente houvesse vítimas com que se ocupar. Gordas galinhas cacarejavam em alto volume e aqueciam ovos únicos, postos quando eram jovens e agora já visivelmente decadentes. Papagaios verdes batiam as asas e gritavam palavrões horríveis. Em meio a tudo isso, ia forçando passagem uma cinzenta, simples rolinha – mal conseguia ver o chão à frente, mal distinguia o caminho a percorrer. Mas ainda assim seguia obstinada, enfrentando a todos com determinação. Não importa que não fosse tão espalhafatosa, tão elegante ou tão faladora, estava feliz com a imagem que tinha de si mesma. Precisava chegar o quanto antes ao banheiro e depois fisgar um coquetel da vernis