13D

Um time de futebol está espalhado pelas poltronas ao redor, jogadores voando ruidosos em agasalhos cores azul e vermelho. Estamos no Aeroônibus 320 vermelho.

Mexem em todas as coisas, como se qualquer botão precisasse ser pressionado, qualquer papel revirado, qualquer portinha aberta.
Assaltaram há pouco o carrinho do serviço de bordo, dominaram o imaginário das aeromoças e comeram e beberam todas as porções extras que havia, enquanto uma delas derramava (abobalhada) refrigerante nos passageiros.

Vôo afivelado ao 13D: a fileira 13, como demonstração do humor do projetista, é a das saídas de emergência laterais.

A nave sacode, área de turbulência. O jogador que está à direita pergunta como se faz para abrir a fuselagem caso precise sair por ali, finjo que não sei. Há cinco desenhos bem visíveis demonstrando a operação, não sei como mas ele não consegue ler as instruções.
As pessoas só conseguem compreender os desenhos para os quais têm suficiente vocabulário visual, quando não o tem procuram o sentido por analogia ao que conhecem.
Não posso imaginar o significado paralelo do que ele estava lendo ali, talvez a origem do seu pânico.

O Aeroônibus ficou retido em uma nuvem gasosa, por algum tempo foi necessário voar em círculos. Nosso atraso foi adquirindo proporções preocupantes até que finalmente pousamos em Titan.
Quase todos a bordo desembarcaram, minutos depois regressaram nos corpos de outros, que foram se espalhando ao redor e já começaram a mexer nos botões, papéis e portinhas.

Decolamos mais uma vez, agora rumo a Mercúrio. Falta menos de uma hora para chegar lá, menos de duas para encontrar as estrelas e menos de quatro para o final de semana.

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