Businessman

Os olhos fundos de quem dorme mal e trabalha ou se preocupa demais, a pele desbotada num tom amarelado e insalubre, a boca caída nos cantos numa expressão gravada pelo hábito, um executivo marchava a passos acelerados pelo saguão do aeroporto.
Terno preto, maleta de couro preto na mão direita, laptop preto na mão esquerda.
Avançava abraçado ao computador, absorvendo megabytes de planilhas que estavam armazenadas lá dentro e lançando olhares irritados e intolerants ao redor.
Chegou ao portão 18, o embarque foi transferido para o portão 5, no extremo oposto do aeroporto. Rumou a passos rápidos e indignados, sobretudo porque em toda aquela extensão não encontrara um só vassalo que o reconhecesse.
No avião sentou-se na poltrona do corredor, manteve o laptop apertado contra o peito até que foi obrigado pela aeromoça a colocá-lo em um lugar mais seguro. Fechou os olhos e o depositou na poltrona ao lado, entre nós dois, e deixou a mão sobre ele. Absorvia agora as apresentações de powerpoint e docs e pdfs e e-mails recebidos.
Lá fora a chuva caía fria e escorria pelas cidades, as pessoas corriam escondidas e faziam coisas para o mundo funcionar. Aqui dentro, ele tomava decisões que mudariam as vidas de muitos daqueles.
Sem tirar a mão nem mover o rosto, virou-se um pouco de lado, apoiando o corpo sobre a perna direita, e soltou um sonoro peido.

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