A Ilha de ontem

Um tremor e...

Os habitantes da Vila acordaram sobressaltados no meio da madrugada.
De manhã, viram que no meio de sua linda baía, bem no meio tinha surgido uma curiosa ilha. O terremoto da madrugada a tinha feito surgir, pensaram.
Pularam nos barcos e foram explorar o novo território. Era uma parte de terra estreita, marrom e lodosa, com uns 200 metros de extensão, 40 de largura e 20 de altura. Apesar do solo pegajoso, parecia bem firme, e alguns já queriam sua propriedade reivindicar.
Os cientistas encontraram metano na superfície, diversos pequenos pontos de vazamento do gás, e isso os fez suspeitar que a ilha poderia ser um “vulcão de lodo” – uma grande quantidade de gás poderia ter sido liberada com o terremoto e formado uma bolha no fundo do mar, a ilha seria o cume da bolha. Se fosse isso, poderia explodir toda a Vila a qualquer momento.
Ninguém mais queria a Ilha (vamos chamá-la assim). Afinal, nem era plana, e fedia bastante, perceberam enfim.
Um grupo de mergulhadores foi enviado para investigar o que havia por baixo, e com grande alívio constataram era água, e a parte submersa da Ilha espelhava a parte exposta, era uma ilha flutuante. Se era bolha de metano, tinha a forma de um zeppelin. Menos mal, menos gás, disseram, mas houve quem lembrasse do Hindenburg.
Resolveram rebocar a Ilha para alto mar, para o mais longe possível da costa, e que a Ilha fosse dar no litoral de onde quisesse, menos ali. Os mais valentes pescadores fincaram suas proas e foram empurrando nas extremidades e no centro, que furar ninguém ousou, e assim sumiram de vista no horizonte.
Passaram-se dois dias e deu à praia um pequeno bote com um punhado de marujos esfarrapados e famintos. Depois de descansarem um pouco, contaram como tinham conduzido a Ilha por alguns quilômetros mar adentro, e como de repente formou-se uma terrível tempestade.
Chuva, enormes ondas e ventos velocíssimos destruíram todos os barcos. Foi tudo varrido, e tudo desceu pelo vértice de um enorme redemoinho que parecia levar ao fundo do oceano. O barco deles, rachado ao meio, era arrastado para baixo e os destroços flutuavam em círculos a uma grande velocidade ao seu redor. Tomados de um grande pavor, pularam na água quando viram que tudo era tragado e o cone começava a se fechar. Por algum milagre, foram impelidos para o alto, onde encontraram muito madeirame e um bote flutuando solitário.
A Ilha desaparecera tão repentinamente como tinha aparecido. Pense o que quiser.
 

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

meus remédios

TEATRO DE MARIONETES

Os Problemas de Leda