Coisas que acontecem quando não tem ninguém olhando – VIII

Carla anda devagar para a direita vinte metros e acaba indo um pouco mais para a esquerda, pois o mundo gira mais rápido. Uma sensação de dar um passo a frente e perceber que recuou dois, como quando tentamos subir em uma escada rolante que desce.
Se vai para a esquerda por uma hora, chega na mesma hora em que saiu, dependendo da velocidade, ou mesmo antes. Mas para ela uma hora passou, então é como se tivesse envelhecido uma hora a mais que o mundo, ou viajado um pouquinho para o passado.
No entanto, se corre para a direita por uma hora leva duas para chegar, viaja para o futuro. Sai ao meio dia, viaja por três horas e chega às cinco da tarde, ainda que para ela não passem de três.
Às suas costas um vento congelante, em seu rosto ares quentes equatoriais, se vai em diagonal muda também o clima.
Carla está em um avião, e voa de um lado para o outro pulando fusos horários. A idéia é voar até acabar o combustível e então usar seu paraquedas, o jatinho não é dela mesmo, nem o piloto ali na mira do 38.
Ela sonha um dia poder girar em órbita da Terra, ainda que fosse em um ovni, abduzida.
O Tempo é a dimensão mais interessante para viajar, como não inventaram ainda a máquina do tempo ela precisa se contentar em cruzar meridianos daqui para lá. Aliás, não dá para saber se a tal máquina não foi mesmo inventada, é o tipo de descoberta que não sai no noticiário nem em anúncios de empresas de viagens.
Carla cai numa cidade qualquer por aí, aumenta as estatísticas de acidentes aéreos. Então come alguma coisa, descansa um pouquinho e segue de carona para o aeroporto mais próximo, não tem tempo a perder.
Já não sabe sua idade real nem a relativa.

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