Amanhecer
Sentira-se meio descarrilhada hoje, estranha desde que acordara e vira os chapéus planando sobre a grama do jardim da frente. Devia ter fechado as cortinas no dia anterior para que não precisasse vê-los, mas os barulhos da noite a assustavam sobremaneira, assim gostava de poder contar com a luz do poste se infiltrado pelos vidros. Amanhecera um dia ensolarado, uma luz que suspendia poeirinhas pelo ar. Os primeiros sons foram de um canário, de um vendedor ambulante de loterias e de um caminhão barulhento. Então três sombras passaram e tornaram a passar, contornos distintos de chapéus antigos. Foi até a janela, lá estavam eles, executando um vôo-dança. Clara estava vestindo apenas uma camisolinha de seda e apesar disso sentia um calor insuportável no quarto. Por onde andava, o calor a seguia como que irradiado por seu próprio corpo. Estranho, se estivesse febil sentiria frio. A geladeira estava aberta, quase vazia. Sobre a mesa uma grande bagunça, cascas de ovos, farinha por toda parte, ...