A Mulher Invisível

A Mulher Invisível se move pelos corredores, de sala em sala, imaterial.
Habita outras dimensões, este é o segredo, consegue penetrar em brechas a nós invisíveis. Fica escondida por baixo das dimensões usuais.
Quando está invisível, não tem cheiro nem volume para nós, mas pode ver de lá tudo o que acontece por aqui, as dimensões são membranas e ela consegue ver através, como em um carro com películas escuras aplicadas nos vidros. Ou melhor, como se estivesse por trás de um espelho.
Como é invisível não precisa se preocupar com roupas ou com maquiagem, a dimensão que utiliza é desabitada e isso é uma vantagem bem prática. É ruim não poder ser vista por ninguém, nem poder interagir com os colegas, só interage com o Homem Invisível.
Acontece que o Homem Invisível só é visível para ela, e ele é insuportável. Como não tem com quem falar, fica alugando seus ouvidos com papos de negócios e de futebol, tem um bafo de bueiro e um aspecto repugnante.
Vez por outra ela foge e se materializa do lado de cá, mas quando isto acontece pode se ver nos reflexos, a cada vez mais gorda, com olheiras, celulite, cabelos desgrenhados. Acabada. É que o tempo passa em velocidades diferentes.
Sempre há um conhecido que a observa surpreso:
- Nossa! Você por aqui?
- Lembro de quando você pesava uns 45 quilos...
- Sempre de férias, hã?
Então ela volta, prisioneira, e encontra o Homem Invisível sentado diante de sua tv, por toda parte, e lendo o jornal, e tomando um uísque com cigarro e digitando coisas sem olhar em sua cara.

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