Os Problemas de Leda

Leda não podia comer açúcares.
Não podia comer sequer frutas ou comer leguminosas adocicadas, pois nascera com uma rara doença.
Fora até aqui uma vida magra de sabores, salgada.
Leda não sentia falta, como não nos falta do que não conhecemos, mas sempre sentiu desejo, uma incrível vontade de conhecer.
Desse modo, idealizava como deveria ser o gosto, imaginou sabores multicoloridos, suaves, luminosos, inebriantes.

Sua doença era tão rara que tinha sido diagnosticada em um punhado de pessoas em todo o mundo desde que fora descoberta, há mais de um século. Não há pesquisas, tratamentos ou especialistas, tudo o que se aprendeu sobre a enfermidade é que ela caminha ao longo dos anos para a cura ou para o agravamento letal.
Leda, aos quase 30, estava curada ou condenada.
Beber um copo de suco de laranja, para ela seria o mesmo que jogar roleta russa.

Ontem, porém, resolveu descobrir seu destino. Comprou uma irresistível bomba de chocolate.

O doce passou a noite sobre a mesa de jantar, bem no meio, entre papéis de embrulho rasgados e sob os olhos esbugalhados que passaram a noite em claro.
Às 4 da manhã ousou uma lambida, bem de leve, e correu para a pia para lavar a língua. Chorou, nervosa, imaginando ruídos e contrações dentro de si.
Às 8 arriscou uma nova lambida, dessa vez não foi se lavar, deitou-se à espera da morte.
Alguns minutos depois, trêmula, arriscou morder o cantinho. Sentindo-se muito bem, enfiou o doce inteiro na boca.
Estava curada!

Hora de buscar algo realmente doce!
Leda pegou suas economias e partiu em busca da felicidade.

(no futuro ela não encontrará o Doce Perfeito
e morrerá obesa e hipertensa)

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