Coisa que acontecem quando não tem ninguém olhando - XV


Azulejos brancos, chão úmido, luz fria e insuficiente, zumbido dos refrigeradores.
Atrás do balcão, uma pessoa repugnante veste roupas brancas completamente encardidas e meladas de sujeiras impensáveis.
Peixes fedem em bandejas de plástico em meio a escamas e gelo, criando uma atmosfera de horror na peixaria sombria.

O Sr. Alberto pediu que embrulhassem uma sereia não muito fresca, que soubesse cantar.
Planejava levá-la em uma viagem a Gdansk, para inspecionar submarinos poloneses, mas a tal sereia revelou-se tão abusada desde o princípio que da banheira não saía para lugar algum.

Era verão e já na segunda semana o cheiro de maresia, que era quase palpável no pequeno apartamento, não era percebido pelo proprietário.
Aos cheiros se acostuma, mas cheirava mal o Alberto, que há dez dias não tomava banho.

Viveram aquele estranho romance até que aconteceu o inevitável: pelicanos invadiram o banheiro e a despedaçaram. Dela comeram quase tudo, sobraram só algumas postas dilaceradas que renderam não mais que uma moqueca ao pobre velho.

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