estações erradas

Passados sete anos, seus sete anos de expiação, o destino voltava a ser-lhe favorável.
Abaixando-se, pegou a nota de 20 e sorriu. Hoje não precisaria voltar à pé pela escuridão, nem comer os restos do restaurante da pensão.
Viajaria de ônibus e compraria seu próprio jantar, depois seria uma latinha de cerveja e um café.
Há sete anos não sentia tamanha esperança. Era hora de procurar um emprego, de dormir sobre lençóis limpos e colchões sem insetos, de repor os dentes que faltavam, de usar roupas do tamanho certo.
Há sete anos quebrara tantos espelhos que sua vida regredira à idade média. No pior de seus dias fáceis não teria sido capaz de conceber a existência de tanta gente rudimentar como as pessoas ao redor.
Tivera família, uma loja, funcionários, casa, carro, dinheiro no banco. Então os espelhos apareceram por toda parte, vindos sabe lá de onde, e começaram a cair sobre sua cabeça, cortando, separando, roubando, destruindo, até que se percebera miserável.
Agora ia jantar e depois do Jornal Nacional planejar o futuro.

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