do além

- Alô?
- Zeca, é você?
- Claro! Euzinho.
- Porra, por onde você andou? Estávamos desesperados atrás de você. Some assim sem dar notícias, diz que vai comprar cerveja no mercado e fica uma semana sumido.
- Uma semana? Sério?
- Qual é? Chega de canalhice, onde você está?
- Desculpa, achei que o lance do Mercado tinha sido hoje, quer dizer, agora há pouco. É que o tempo aqui anda diferente, eu estou no além.
- Além? Ora, vá para o inferno então! Que papo é esse?
- É sério, pode procurar na internet. Já deve ter a noticia. Quando eu estava entrando no supermercado fui assaltado e um dos bandidos acabou disparando um tiro fatal. Procura aí, Mercado Mundial da Haddock Lobo.
- Achei a noticia, ..diz aqui que um homem foi assaltado, e depois de ter descido do carro foi alvejado. Estava sem documentos, não foi identificado.
- Por isso mesmo que eu liguei. Roubaram minha carteira junto do carro. O lance é que meu corpo vai ser enterrado como indigente se não for identificado, e sem isso você não pode receber o seguro. Preciso que você vá ao IML.
- Seguro?
- Fiz um seguro em seu nome , vai dar para você ficar bem confortável. A apólice está na segunda gaveta ali da mesinha do escritório.
- Nossa, que legal! E como é aí?
- Não deu para sentir muito bem, parece que estou aqui há poucas horas, mas no tempo daí já se foi uma semana. Se for assim a eternidade talvez nem seja tão longa. Tem um monte de gente por aqui, parece até aquelas fotos da India, de tanta gente amontoada, só que podemos passar uns por dentro dos outros e não incomoda ser tão cheio.
- Encontrou alguém conhecido?
- Ainda não, mas não deu para procurar direito. Entrei aqui nessa cabine, tem duas listas telefônicas enormes, a do Além é quase interminável. Mas já achei o telefone do vovô, vou ligar para ele depois.
- Ah! Pergunta então onde ele guardava os documentos do carro? A esta altura já virou antiguidade, mas sem os documentos não podemos vender. O porteiro do prédio da sua avó tem dado umas voltas, semana passada encontramos duas garrafas de Fogo Paulista vazias no banco de trás.
- Pode deixar. Se o vovô souber que estão usando o Opala dele para festinhas vai com certeza vir puxar a perna do porteiro. O carro do general. Haha, quem diria.
- Zeca, estamos com saudade, vê se não some de vez, tá?
- Pode deixar. Prometo que telefono sempre que der. Olha, preciso desligar, estão me chamando ali num lugar ilumidado. Talvez seja algum show.
- Tá legal, mas vai com cuidado! Se tiver um cara de chapéu preto é roubada, lembra do Poltergeist.
- Pode deixar. Beijo, Tchau!
- Beijo!

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