Augusto em apuros
Augusto esperava em meio à multidão que o sinal de trânsito
ficasse verde para os pedestres, estava atrasado e ainda seria preciso andar
quase três quarteirões em meio ao sol e à multidão do centro do Rio de Janeiro,
o que era bastante desagradável para alguém com uma emergencial dor de barriga.
Atravessando, encontrou no meio da pista com seu chefe, que
retornava do almoço e o convidou para um café. Irrecusável.
Foram tomar café em Madureira, viajaram no metro lotado até
a estação Maria da Graça e de lá seguiram de taxi. Augusto já não aguentava,
não sabia o que fazer, nem como controlar os espasmos que tentavam tomar conta
de seu corpo.
Depois do café o chefe pediu que Augusto comprasse alguns
itens para o almoxarifado do escritório. Deixando a enorme lista de produtos e
muitas recomendações com o coitado, retornou à empresa.
Anoitecia quando ele chegou de taxi à sede da empresa,
carregava sacolas cheias de acessórios para festas e os outros objetos
despropositados encomendados pelo gerente. Dentro de si, tudo se acalmara.
Sentira a última reviravolta no ronco de uma hora antes, mas correu para o
banheiro mesmo assim.
Sentado, nu, percebeu que estava prestes a se desfazer e
começou a rezar, então toda sua vida passou diante de seus olhos como um filme.
Lembrou que era seu aniversário, 50 anos, trinta nesse emprego, onde nem sabia
mais o que a ele competia fazer.
Então a Onda veio, e arrastou consigo todos os utensílios,
as roupas e toalhas ao redor e – Oh, não! acabou o papel.
(Batidas na porta, já terminou o expediente, quem será?)
Oh, não! esquecera de trancar a porta, alguém prestes a
entrar, muitas vozes...
Todo o departamento esperou às escuras pelo regresso do
Augusto, que o chefe tão maliciosamente ludibriara. A festa estava preparada,
luzes apagadas, - lá vem ele!
Esperem! Ele está indo ao banheiro, tive uma ideia
engraçada. Vamos surpreendê-lo lá, quando sair!
Como demora aí dentro.. vejam, a porta está aberta… vamos entrar? Preparem a
batucada e as câmeras! Homenagem ao nosso querido e mais antigo colaborador..pss…silêncio…vou
abrir!
- Ué? Onde está ele?
Misturado ao redemoinho sanitário, um ultimo vislumbre de
tecido cinza, o casaco que no final ficou preso nas ferragens. Augusto nunca
mais foi visto.
Noutro canto da cidade, cinco anos antes, Dona Clara, aos 90
anos gritava, vermelha e prestes a desmaiar:
- Saiu um homem pelado da geladeira, deixou um cheiro
horrível. Olha só, Madalena, a geladeira ficou toda suja! Olha a porta da Frigidaire!
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