Cabelos por toda parte
- A senhora quer amendoins e uma barra de cereais..
- Pepsi, please.
- Cereais de banana, maçã ou castanhas?
- Pepsi.
- Banana, apple, nuts?
- No, thanks.
9 mil metros abaixo havia um celofane azul e o recorte feito a mão de um papel verde-felpudo desses que os arquitetos usam em maquetes para representar o mar e as florestas, o rasgadinho branco do papel parecendo uma praia.
A luzinha do banheiro estava acesa há uns 20 minutos, outros passageiros em fila pelo corredor, nada da estrangeira sair.
- Ela deve estar se sentindo em casa, lá dentro tudo tem legenda em inglês.
- Deve achar que é a saída de emergência.
- Quando dá descarga sobe um ventinho gelado, deve ser isso, está muito quente aqui.
A porta se abriu e a senhora saiu descabelada. Era até bem mais morena que os americanos costumam ser, tinha cabelos tingidos daquele preto-peruca, entremeado de brancos, era um pouco gordinha e aparentava uns 40 anos. Excuse-me para todos os lados, fez com que nos levantássemos mais uma vez para que pudesse chegar até o assento 5A, que fica junto à janela.
Lá em baixo agora só os flocos de algodão.
A estrangeira puxou um fio de cabelo branco, não conseguia arrancá-lo. Puxou com mais força e ao invés de sair, o cabelo cresceu, ou esticou, como um fio de um carretel desenrolado.
Continuou a puxar, já estava perto da bandeja e não parava de sair, começou a enrolar o fio ao redor do copo. Agora rodava o copo como se fosse um novelo, e vi que a certo ponto o fio se tornou preto, e não parava de sair da cabeça.
Reparei que o volume de cabelos da senhora começava a diminuir, rareava mesmo no topo da cabeça. Fiquei olhando e logo surgiu uma clareira. O novelo estava grande agora, o fio eram na verdade todos os fios dela emendados. Antes que pousássemos, estava completamente careca.
Deu um sorriso enigmático para mim:
- See that!
Começou a comer o novelo como se fosse spaguetti, depois fechou os olhos, o nariz e a boca, e soprou-se por dentro. Um a um os fios foram surgindo, agora todos pretos, e em poucos minutos a cabeleira voltou ao normal.
- I can do it with your eyebrows!
Brandindo uma pinça pulou sobre minha poltrona, tentando arrancar meus pelinhos.
A aeromoça, acreditando ser alguma espécie de atentado, abriu o armário de defesa da aeronave e de lá sacou o arpão de caçar tubarões. Um tiro de ar comprimido cravou o arpão na cabeça da louca, revelando um sistema de engrenagens ultra-secretas e câmeras e lentes e circuitos.
A cena bizarra, a senhora com um arpão cravado na cabeça dilacerada, e os discos girando, e o cheiro de óleo pairaram por alguns instantes enquanto ela tentava se arrastar de volta para o banheiro, sabe-se lá para quê. No meio do caminho foi soterrada pelas bagagens de mão que os passageiros todos fizeram despencar dos compartimentos superiores.
- Pepsi, please.
- Cereais de banana, maçã ou castanhas?
- Pepsi.
- Banana, apple, nuts?
- No, thanks.
9 mil metros abaixo havia um celofane azul e o recorte feito a mão de um papel verde-felpudo desses que os arquitetos usam em maquetes para representar o mar e as florestas, o rasgadinho branco do papel parecendo uma praia.
A luzinha do banheiro estava acesa há uns 20 minutos, outros passageiros em fila pelo corredor, nada da estrangeira sair.
- Ela deve estar se sentindo em casa, lá dentro tudo tem legenda em inglês.
- Deve achar que é a saída de emergência.
- Quando dá descarga sobe um ventinho gelado, deve ser isso, está muito quente aqui.
A porta se abriu e a senhora saiu descabelada. Era até bem mais morena que os americanos costumam ser, tinha cabelos tingidos daquele preto-peruca, entremeado de brancos, era um pouco gordinha e aparentava uns 40 anos. Excuse-me para todos os lados, fez com que nos levantássemos mais uma vez para que pudesse chegar até o assento 5A, que fica junto à janela.
Lá em baixo agora só os flocos de algodão.
A estrangeira puxou um fio de cabelo branco, não conseguia arrancá-lo. Puxou com mais força e ao invés de sair, o cabelo cresceu, ou esticou, como um fio de um carretel desenrolado.
Continuou a puxar, já estava perto da bandeja e não parava de sair, começou a enrolar o fio ao redor do copo. Agora rodava o copo como se fosse um novelo, e vi que a certo ponto o fio se tornou preto, e não parava de sair da cabeça.
Reparei que o volume de cabelos da senhora começava a diminuir, rareava mesmo no topo da cabeça. Fiquei olhando e logo surgiu uma clareira. O novelo estava grande agora, o fio eram na verdade todos os fios dela emendados. Antes que pousássemos, estava completamente careca.
Deu um sorriso enigmático para mim:
- See that!
Começou a comer o novelo como se fosse spaguetti, depois fechou os olhos, o nariz e a boca, e soprou-se por dentro. Um a um os fios foram surgindo, agora todos pretos, e em poucos minutos a cabeleira voltou ao normal.
- I can do it with your eyebrows!
Brandindo uma pinça pulou sobre minha poltrona, tentando arrancar meus pelinhos.
A aeromoça, acreditando ser alguma espécie de atentado, abriu o armário de defesa da aeronave e de lá sacou o arpão de caçar tubarões. Um tiro de ar comprimido cravou o arpão na cabeça da louca, revelando um sistema de engrenagens ultra-secretas e câmeras e lentes e circuitos.
A cena bizarra, a senhora com um arpão cravado na cabeça dilacerada, e os discos girando, e o cheiro de óleo pairaram por alguns instantes enquanto ela tentava se arrastar de volta para o banheiro, sabe-se lá para quê. No meio do caminho foi soterrada pelas bagagens de mão que os passageiros todos fizeram despencar dos compartimentos superiores.
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