O Cérebro de cada um

O corpo por dentro é uma máquina, por fora uma embalagem multimídia.

Alimento e o ar são combustíveis, há sistemas hidráulicos e mecânicos, uma engenharia extremamente complexa com mecanismos atômicos, elétricos, térmicos e dinâmicos que não somos capazes de compreender em sua totalidade.
Cérebro é memória, controle, iniciativa, decisão, interpretação, reação. Sem ele o corpo não serve para nada, sem o corpo ele não serve para nada.
Tudo pode parar e ainda assim permanecer vivo por algum tempo, tudo pode continuar funcionando sem vida por um tempo.

A vida é esta coisa elétrica que anima o conjunto todo, a coisa que ainda não conseguimos inventar porque não é explicável por leis da física nem por planilhas. A vida serve para fazer a máquina-corpo funcionar, fazendo cada pedacinho dos seres cumprir sua função.

Mas o cérebro não é apenas funcional como as demais peças, é racional e emocional. Decide e compara, analisa e opta. Sempre há opções, usa os sentidos para avaliar, a vontade para escolher.

O corpo-embalagem é um significante da pessoa, precisa mostrar quem ela escolheu ser, deixar claro o que muitas coisas significam para o cérebro-conteúdo. Este significado é percebido pelos outros cérebros que circulam ao redor, e este processo de semiótica é social à medida que cada sociedade de cérebros avalia os corpos que a compõe.

A alma deve ser esta sensação de que estamos vestindo o corpo, como se não fizéssemos parte dele mas como se estivéssemos dentro dele. A sensação de que poderíamos sair e trocar de corpos uns com os outros, e esta impressão que cultivamos de que se o corpo morrer nós de algum modo continuaremos a existir mesmo sem ele.
Emocionalmente os cérebros pensam assim e criam religiões e programam o que fazer no além. Racionalmente os cérebros pensam em sua finitude e temem a morte, assim geram para si um conflito que sempre resulta em empate.
Tudo o que o cérebro pensa, porém, é baseado no que o corpo conhece, no que vivenciou ou aprendeu, que provavelmente é uma mínima parte do que há para se conhecer. O cérebro sequer conhece o funcionamento do corpo.

A embalagem-corpo vai se deteriorando com os anos, o que permanece ou não é a motivação, que vem de como a alma e o cérebro se percebem ao longo do tempo, a história de envelhecer ou manter-se jovem por dentro.
A motivação talvez seja a verdadeira alma, e a alma que pensamos talvez seja apenas nossa imaginação. Quando a motivação termina por completo esgotam-se as razões de existir, ainda que todo o resto esteja muito bem.
É a motivação que faz perguntar qual é o nosso papel, que define quem realmente somos a cada dia, é o conteúdo, o conceito por trás de tudo.
O cérebro vai projetando o corpo-embalagem e o corpo-atitude e revendo o projeto a vida toda, isto ajuda a manter a motivação mas não a determina, dá a ela forma, informa.
A construção do corpo-embalagem é assim um processo de autodesign na concepção filosófica do design como criador de forma, processo que dá forma aos conteúdos pré-existentes “vestindo mensagens”: o corpo-embalagem veste a motivação de ser.

O cérebro é o designer dentro de cada um.

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