Um homem em Pasta

Sentia as pernas arrastadas sob o peso de sua magreza, mais se deslocava que andava, como um inseto, cheio de folhas e ar, seus únicos alimentos nos últimos tempos.

Vivia sozinho há dez anos, e por todo este tempo vagou pelas ruas desta e daquelas cidades distribuindo uma boa parte do que tinha e ensinando tudo o que sabia, até que ficou vazio de conhecimentos e de objetos.

Ao redor pairavam pessoas vestidas de preto, de cabelos compridos e brilhantes, com bolsas e celulares e sapatos de grife, e as pessoas olhavam com olhos de cobiça. Quase nada havia que pudessem querer, mesmo assim percebia lampejos de talheres que carregavam disfarçados em seus bolsos e de dentes pontudos que surgiam nos meios-sorrisos falsos.

O homem tropeçou em um buraco da companhia de águas e esgotos e metade do seu corpo escorreu pelo bueiro aberto antes que pudesse se agarrar em algo. Esticando os braços raquíticos em meio à queda conseguiu segurar canela branca de uma mulher que calçava um sapato preto de salto agulha.
A mulher cravou o salto do outro sapato em sua mão, e pisou até furar, enquanto pedaços de sangue e osso iam escorrendo pelas bordas. Foi puxado para cima e teve suas roupas rasgadas em pedaços e repartidas e comidas pelos pedestres que iam se acumulando ao seu redor.

Seu corpo nu foi chutado, pisado, quebrado e dividido em partes, amassado e então despejado no bueiro aberto, que foi rapidamente coberto com a tampa de ferro.

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