1 Noite, 2 dias ao Mesmo Tempo

Say goodbye on a night like this
If it's the last thing we ever do
You never looked as lost as this
Sometimes it doesn't even look like you
(A Night like This – The Cure)


Músicas carregam estados de espírito como cápsulas de tempo, trazem cheiros, gostos, imagens, sensações e idéias passadas, mesmo que nunca tenham sido escutadas. Funciona nesse caso a tal associação perceptiva, da época da música, do conjunto e até o estado de espírito.
A quarta dimensão é o tempo, impossível duvidar, e os físicos têm falado em muitas outras dimensões que de certo modo dele se ramificam. As músicas são chaves para estes lugares, e cada um de nós circula em muitos deles agora mesmo.
Ontem eu escutava uma rádio pela Internet e tive a sensação muito muito tátil de que estava em um outro lugar, pé na grama, ventos perfumados de eucalipto, sol na face, mas sabia que já era noite avançada.
Fechei os olhos esquecendo a noite e fiquei concentrado no dia, então percebi que na verdade eu estava mesmo no tal lugar e meus olhos estavam bem abertos ali.
Eu estava em uma cadeira de palha bem confortável, junto a uma mesinha de bar dessas rústicas, de madeira, bem pertinho de um rio, descalço, lendo um livro policial como os que se lê nas férias. O sol de fim de tarde aquecia meu rosto com uma luz agradável, e senti uma fome de comer pizza. Bebi cerveja, conversei com algumas pessoas, estava ali há horas.
Apesar de tantas cores, no rádio do lugar tocou série de músicas que sempre ouço no escritório, e me senti de repente muito cansado e preocupado, a mesinha era uma mesa de trabalho comigo sentado nela escrevendo algo no computador, à minha frente havia mesmo um computador e eram duas da manhã.
Veio então uma súbita sensação de queda, dessas que temos quando acordamos de repente, e eu estava numa poltrona de avião voando sobre o oceano:
- Senhor, aceita um refrigerante?
Confuso, vejo a aeromoça e o carrinho de lanches. Para onde estamos voando mesmo?
- Para São Paulo, senhor. Desculpe tê-lo acordado, mas logo vamos pousar.
Aceitei um suco de laranja e um pacotinho de amendoins. Prudentemente, desliguei meu aparelho de MP3, que a música do Cure terminara e começava a tocar uma música da minha adolescência.
Apertei o cinto e deixei a poltrona na vertical: em outras dimensões eu namorava, sofria acidentes automobilísticos, nadava, estudava, desenhava, sofria, dançava, e muitas coisas mais.

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