Um sonho

Acordei assustado: batida insistente na janela, metálica, insólita. 3 da manhã.
Abri a cortina e descobri um cavalo de grandes proporções, castanho e brilhante.
Melhor: luminoso.
Percebi lá fora uma luminosidade de luz fria, azulada como a que ilumina o interior dos supermercados, e que de algum modo emanava do cavalo.
Fiquei parado, apenas olhando, buscando algum sentido, e o animal procurava acomodar o corpanzil na estreita borda da janela, e esbarrava os cascos no vidro, e olhava bem dentro dos meus olhos, como se pedisse para entrar.
Fosse uma mariposa, não hesitaria, não tenho aflições, mas aquilo era muito para mim.
Depois, tenho certo medo de cavalos, pois se mexem demais. Nunca consegui montar, não tem volante nem guidom, para mim cavalos são como bicicletas altas com vontade própria, barulhentas e fedorentas. Mas acho lindos os cavalos, bem assim: num estábulo, num quadro, naquelas gravuras em água forte ou mesmo atrás de um vidro.
Começou a se arrastar para trás, impaciente, apoiado no vidro. Não sei como não o quebrou e como não caiu aqui dentro, movia-se lentamente, algo indeciso, e acabou perdendo o equilíbrio. Quando percebeu que era inevitável, pulou mesmo.
Corri, abri a vidraça e recebi no rosto um sopro do gélido ar azul, temperatura incomum, e o cavalo ia planando já dois andares abaixo, em espirais, um vôo leve como de gaivota, e foi descendo e planando rumo ao playground.
Um minuto ou meia hora depois, pousou lentamente sobre as águas paradas da piscina, foi afundando e iluminando tudo por ali, até que afundou completamente.
Então a estranha luz se foi, o céu escuro e poluído de cidade grande tinha poucas estrelas e uma lua cheia, o ar voltou a ser pesado e quente. Na piscina, apenas reflexos brancos sobre umas águas agitadas.

Comentários

Postagens mais visitadas deste blog

meus remédios

TEATRO DE MARIONETES

Os Problemas de Leda