Uma Visita

Era um prédio desses que parecem castelos, com uma imensa fachada de tijolos de onde espiam três andares de grandes janelas de cristal.
O prédio fica dentro de um amplo parque com jardins de flores e intermináveis gramados de um verde claro molhado pelas gotas de sereno.
é primavera, e raios de sol matinais se infiltram entre as folhas das árvores traçando no ar zonas triangulares de luz onde flutuam poeirinhas douradas em redemoinhos imaginados.
Lá no portão, uma placa de bronze com o nome do haspital, fica certamente em algum lugar da inglaterra. Um médico muito distinto, de bigodes pontudos e bem cuidados, calvo e marcial aguardava junto à porta de entrada. Com muita polidez, sou levado a conhecer as instalações, como se fosse algum inspetor, mas sinto que é assim porque visitas aqui não são muito comuns.
As enfermeiras têm um estranho ar de pin-ups, que bem combina com o jeito antigo e formal dos médicos e internos.
Atravessamos o pátio interno, com o sempre presente chafariz e bancos ao redor, e passamos por uma dupla porta envidraçada, que separava o corredor de trás do jardim dos fundos.
Este era o jardim onde os internos podiam ficar, e foi lá que encontrei meu avô. Ele estava surpreendentemente bem, feliz e espirituoso como sempre. Fez umas brincadeiras, deu uns conselhos que nem lembro mais porque não conseguia prestar atenção ao que dizia. Levantou o pijama de flanela para mostrar a barriga, estava curado, disse, e não sentia mais dor. Conversamos mais um pouco sobre coisas triviais, ele ficou cansado e fomos juntos até seuy quarto.
deixei-o deitado, sob confortável coberta branquinha, nos despedimos com uma troca de olhares e fui seguindo corredores encerados e paredes impecáveis até a saída.
De repente, uma vontade incontrolável de voltar e dizer mais uma porçao de coisas importantes. Virei e comecei a andar acelerado e então vi que as paredes estavam arruinadas, manchadas de mofo e fuligem, o piso se abrira, várias tábuas estavam rachadas e caídas, o forro desabara, eu estava em um local completamente destruído e abandonado.
Mesmo assim, fui entre os escombros correndo para a ala onde há instantes tinha deixado meu avô, mas o panorama ali era ainda mais assustador, como em um pesadelo tudo havia desaparecido, restavam tocos calcinados, muitas cinzas e ruínas, pelo chão tijolos queimados se empilhavam em meio a um mato descuidado, aqui e ali vestígios enferrujados de janelas.
Fechei os olhos e desejei estar em casa.No dia seguinte busquei na internet o nome do hospital e descobri que exisitira do início do século XVIII até outubro de 1944, quando fora bombardeado pelos alemães. O diretor, um reconhecido rosto calvo e de bigodes, era considerado um herói nacional por ter pessoalmente removido muitos internos do prédio em chamas, onde encontrara a própria morte.

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