Visão Canina
Dizem que os cães enxergam apenas duas cores, azul e amarelo.
Como os cientistas descobriram isto, não faço idéia. E não imagino também o que eles não enxergam, será que vêem as outras cores em preto-e-branco, ou as convertem em tons malucos de azul e amarelo ou simplesmente não as vêem?
Descarto a última opção, meu cachorro parece ver todas as coisas ao redor, e percebo alguma diferença quando olha para algo verdadeiramente azul ou amarelo: quando pintei a parede da sala em azul escuro, o cão ficou o dia seguinte quase todo sentado dando uivos leves e observando a perede. Fico assim com a primeira hipótese, de que o resto se torna uma escala de cinza.
Também não consegui descobrir se percebem todos os tons e matizes de azul e amarelo, como dizia meu professor de desenho, há diversos azuis e amarelos, tantos que nem podemos nomear todos.
Para as crianças são azul piscina, azul céu, azul claro e escuro, amarelo limão, amarelo bandeira, creme. Para os artistas, nomes mais sofisticados, Azul Ultramarino, da Prússia, Azul Celeste, Amarelo Ouro, Ocre, Amarelo qualquer coisa.
Para nós, gráficos, os amarelos e azuis são feitos de percentuais, de 0 a 100 amarelo e cian se combinam em 10 mil possibilidades de tons, que escurecidos se tornam 1 milhão. Dentre estas combinações, para não mencionar aquelas onde entra o magenta, habitam todos os tipos de verde. Será que os cães enxergam o verde, em decorrência de verem azul e amarelo?
Se não podem ver o verde, precisamos pensar sob outro referencial, o de luz. Vemos as cores de modo diferente do que acontece quando as cores se misturam pois elas se misturam em pigmento e nós vemos luz refletida, talvez os cães não possam ver a luz que o verde reflete, aí precisamos pensar no padrão de cores-luz.
Neste padrão, o verde é uma primária. O azul também, um azul mais escuro, mas é. O amarelo, porém, para nós humanos é dado pela combinação das outras duas primárias, o verde e o vermelho. Se enxergam o amarelo, deve ser uma primária para eles. Isto faz sentido, teriam apenas duas primárias, o amarelo e o azul, cores de luz, e se estas se combinarem como combinam os iluminadores de teatro, quando misturadas dão o branco.
Assim, os cães enxergariam amarelos e azuis partindo das cores puras de luz, rebaixadas até o branco, e o preto e branco. Os tons de preto devem ser dados pela ausência tanto do amarelo quanto do azul. As cores coloridas devem ser convertidas não para uma escala de cinza, mas para uma escala de amarelos-azuis-branco-preto, onde o cinza só aparece se os percentuais de amarelo e azul forem iguais.
Pelos padrões humanos de percepção, isto daria um pouco mais de 65mil tons, mas não há como saber se a percepção canina dos tons de luz é a mesma, provavelmente não, já que para os sons percebem muito mais que nós. Mas a percepção das cores é algo que acontece dentro do cérebro, é uma tradução, conversão, assim nunca saberemos.
Mesmo se um dia conseguíssemos criar uma máquina que lesse pensamentos, precisaria ser tão precisa que lesse percepções, pois como a máquina traduziria um azul que não existe para nós? Precisaria converter para um de nossos azuis humanos, limitados, e deixaria de ser o azul invisível.
Sendo coisa interna, nada garante também que amarelo e azul sejam percebidos como tal, vide os daltônicos, nada garante que azul não se transforme em amarelo, ou que amarelo não se transforme em azul, ou mesmo vermelho, ou em outra cor qualquer que pode ser a tal cor inexistente, que nem percebemos mesmo.
Para mim há certos verdes que para outros são azuis, há certos azuis que para outros são roxos, há certos laranjas que para outros são amarelos, e são fisicamente as mesmas cores, as mesmas coisas, o mundo é que é mesmo diferente para cada um.
Quando os humanos se drogam, e têm experiências psicodélicas, passam a visitar estados de percepção alterada da realidade. Será que enxergam as cores caninas? Sei que às vezes meu cachorro come um comprimido azul da vovó – “Lelé o quê! Não preciso ficar tomando esses remédios para a cabeça, estou ótima! Toma aí, cãozinho..” – e depois age estranhamente, vai andando encostado à parede do quarto, do corredor, olhando em volta meio apreensivo e assustadiço.
Estará vendo as coisas mais coloridas? Em negativo? Invertidas?
Como os cientistas descobriram isto, não faço idéia. E não imagino também o que eles não enxergam, será que vêem as outras cores em preto-e-branco, ou as convertem em tons malucos de azul e amarelo ou simplesmente não as vêem?
Descarto a última opção, meu cachorro parece ver todas as coisas ao redor, e percebo alguma diferença quando olha para algo verdadeiramente azul ou amarelo: quando pintei a parede da sala em azul escuro, o cão ficou o dia seguinte quase todo sentado dando uivos leves e observando a perede. Fico assim com a primeira hipótese, de que o resto se torna uma escala de cinza.
Também não consegui descobrir se percebem todos os tons e matizes de azul e amarelo, como dizia meu professor de desenho, há diversos azuis e amarelos, tantos que nem podemos nomear todos.
Para as crianças são azul piscina, azul céu, azul claro e escuro, amarelo limão, amarelo bandeira, creme. Para os artistas, nomes mais sofisticados, Azul Ultramarino, da Prússia, Azul Celeste, Amarelo Ouro, Ocre, Amarelo qualquer coisa.
Para nós, gráficos, os amarelos e azuis são feitos de percentuais, de 0 a 100 amarelo e cian se combinam em 10 mil possibilidades de tons, que escurecidos se tornam 1 milhão. Dentre estas combinações, para não mencionar aquelas onde entra o magenta, habitam todos os tipos de verde. Será que os cães enxergam o verde, em decorrência de verem azul e amarelo?
Se não podem ver o verde, precisamos pensar sob outro referencial, o de luz. Vemos as cores de modo diferente do que acontece quando as cores se misturam pois elas se misturam em pigmento e nós vemos luz refletida, talvez os cães não possam ver a luz que o verde reflete, aí precisamos pensar no padrão de cores-luz.
Neste padrão, o verde é uma primária. O azul também, um azul mais escuro, mas é. O amarelo, porém, para nós humanos é dado pela combinação das outras duas primárias, o verde e o vermelho. Se enxergam o amarelo, deve ser uma primária para eles. Isto faz sentido, teriam apenas duas primárias, o amarelo e o azul, cores de luz, e se estas se combinarem como combinam os iluminadores de teatro, quando misturadas dão o branco.
Assim, os cães enxergariam amarelos e azuis partindo das cores puras de luz, rebaixadas até o branco, e o preto e branco. Os tons de preto devem ser dados pela ausência tanto do amarelo quanto do azul. As cores coloridas devem ser convertidas não para uma escala de cinza, mas para uma escala de amarelos-azuis-branco-preto, onde o cinza só aparece se os percentuais de amarelo e azul forem iguais.
Pelos padrões humanos de percepção, isto daria um pouco mais de 65mil tons, mas não há como saber se a percepção canina dos tons de luz é a mesma, provavelmente não, já que para os sons percebem muito mais que nós. Mas a percepção das cores é algo que acontece dentro do cérebro, é uma tradução, conversão, assim nunca saberemos.
Mesmo se um dia conseguíssemos criar uma máquina que lesse pensamentos, precisaria ser tão precisa que lesse percepções, pois como a máquina traduziria um azul que não existe para nós? Precisaria converter para um de nossos azuis humanos, limitados, e deixaria de ser o azul invisível.
Sendo coisa interna, nada garante também que amarelo e azul sejam percebidos como tal, vide os daltônicos, nada garante que azul não se transforme em amarelo, ou que amarelo não se transforme em azul, ou mesmo vermelho, ou em outra cor qualquer que pode ser a tal cor inexistente, que nem percebemos mesmo.
Para mim há certos verdes que para outros são azuis, há certos azuis que para outros são roxos, há certos laranjas que para outros são amarelos, e são fisicamente as mesmas cores, as mesmas coisas, o mundo é que é mesmo diferente para cada um.
Quando os humanos se drogam, e têm experiências psicodélicas, passam a visitar estados de percepção alterada da realidade. Será que enxergam as cores caninas? Sei que às vezes meu cachorro come um comprimido azul da vovó – “Lelé o quê! Não preciso ficar tomando esses remédios para a cabeça, estou ótima! Toma aí, cãozinho..” – e depois age estranhamente, vai andando encostado à parede do quarto, do corredor, olhando em volta meio apreensivo e assustadiço.
Estará vendo as coisas mais coloridas? Em negativo? Invertidas?
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